terça-feira, 28 de junho de 2011

De Bobby Kotick a Ken Levine: os cabeças da indústria comentam a decisão da Suprema Corte


Nesta segunda-feira (27), a Suprema Corte deu um basta, talvez para sempre, não apenas à discussão sobre se os games são protegidos pela liberdade de expressão, mas também ao eterno questionamento sobre se eles são arte ou não. Sim, eles são.
E então fomos falar com alguns dos principais produtores e desenvolvedores de games dos Estados Unidos para saber o que eles têm a dizer. Confira a seguir algumas opiniões de Bobby Kotick (Activision), John Riccitiello (EA),Ken Levine (Irrational Games), Randy Pitchford (Gearbox) e outros.

Mike Capps, presidente da Epic Games (Gears of War)

Nós louvamos essa decisão histórica da Suprema Corte e, como sempre, acreditamos que os desenvolvedores têm o direito de criar arte e entretenimento para pessoas de todas as idades.
A Epic Games aplaude a posição da Corte de validar o sistema de classificação etária da Entertainment Software Rating Board (ESRB) como uma ferramenta eficaz para orientar os pais ao decidirem sobre quais jogos são apropriados para seus filhos. Nós apoiamos e defendemos a classificação da ESRB, e somos gratos à Corte por ela ter reconhecido que nossa indústria dá aos pais os meios para decidirem o que é melhor para seus filhos.

Vince Desi, CEO da Running With Scissors (Postal)

Graças a Deus, alguns de nós ainda acreditam na Constituição. Todo dia acordo pensando em qual seria a nova insanidade inventada pelos nossos políticos. Mas acredito, sinceramente, que todos os envolvidos, dos pais até os desenvolvedores, passando pelos revendedores e pelas produtoras, devem fazer sua parte e assumir responsabilidades para acabar com essa hipocrisia que tem sido o padrão em nossa indústria.



Bobby Kotick, presidente da Activision Blizzard (Call of Duty, Guitar Hero, World of Warcraft)

Estamos contentes com a decisão, é uma ratificação importante dos direitos da Primeira Emenda e uma vitória contra um ataque injustificado à nossa indústria. Proteger as crianças de conteúdos impróprios é importante, e é por isso que temos um sistema de classificação etária que é bastante claro e objetivo.




Ken Levine, diretor de criação da Irrational Games (BioShock e BioShock Infinite)

Eu adoraria ler todo o texto da decisão antes de escrever isso, mas o Kotaku pediu uma resposta imediata. Então vou começar citando apenas um trecho da primeira página do texto final:
“Os videogames estão sob a proteção da Primeira Emenda. Assim como livros, peças de teatro e filmes, eles expressam ideias através de mecanismos literários e recursos próprios desse meio”.
Para começo de conversa, essa era uma lei terrível. Ela poderia, sim, ter transformado todos os jogos em games “só para adultos” porque as produtoras teriam receio de dar uma classificação mais amena para seus jogos e depois correrem o risco de enfrentar a ira do estado (ou, melhor dizendo, dos estados, porque a lei da Califórnia fatalmente daria origem a 49 irmãozinhos bastardos). Um encanador fofinho pula sobre um cogumelo com formas humanas e o esmaga até a morte? Hmmm, melhor classificar como “M” (mature).
E isso teria desencorajado a indústria a desenvolver conteúdos para não-adultos. Afinal, por que se preocupar com isso, se no final seu jogo vai ser classificado como algo que não pode ser vendido para os mais jovens? A consequência seria uma indústria que não serve às crianças.
Toda nossa liberdade vem do nosso direito de expressão. A fala é incrível porque é ao mesmo tempo inofensiva e onipotente. A Proclamação da Emancipação [EUA] e O Capital [Karl Marx] são simples coleções de palavras. Uma delas levou à libertação de todo um povo em um país; a outra levou à escravidão de uma população sob um ditador brutal. Mas quem pode dizer onde esse conjunto de palavras vai nos levar? A grandeza da América vem da humildade da Primeira Emenda. Por que eu posso julgar melhor que você onde essas palavras vão nos levar? Eu não posso. Por isso a lei permanece calada e deixa as palavras nos guiarem.
Hoje, a Corte levou essa mídia que nós tanto amamos a esse círculo de liberdade. E nós seguimos em frente fortalecidos, mas também com o senso de responsabilidade de que as palavras têm significado. Então, como criadores, vamos escolher nossas palavras com respeito, entendendo a força delas. Mas nenhuma lei vai ter a autoridade de escolhê-las por nós.

Ted Price, presidente da Insomniac Games (Ratchet & Clank e Resistance)

Hoje é um grande dia para a indústria dos games. A Suprema Corte dos EUA ratificou o que nós já sabíamos o tempo todo – que os games merecem a mesma proteção da Primeira Emenda que outras formas de entretenimento. Mas o que tudo isso significa para nós, que vivemos de criar jogos? Significa que não vamos precisar nos autocensurar porque um comerciante poderia ser multado por vender nossos jogos a um menor de idade. Significa que não vamos precisar prever como um órgão legislativo vai interpretar as “regras” ambíguas sobre o conteúdo dos jogos. Mas mais importante de tudo, significa que vamos poder continuar nos expressando em uma das mídias mais vibrantes e culturalmente relevantes que já existiu.
Hoje é um grande dia para os pais. Eles podem continuar conferindo a classificação da ESRB para saber do que um jogo trata em vez de analisarem diversos sistemas diferentes. E, melhor ainda, eles podem continuar decidindo o que seus filhos vão jogar sem a interferência do governo.
Melhor de tudo, hoje é um grande dia para os jogadores. Os desenvolvedores vão continuar fazendo o que fazem de melhor – criando experiências incríveis para os gamers, sem medo de que o conteúdo de seus jogos seja tratado de forma diferente de filmes, livros ou programas de TV. Como gamers, significa que vamos poder continuar curtindo mundos, personagens e experiências únicas, que não podemos encontrar em nenhum outro lugar.
Pessoalmente, eu pertenço a esses três grupos. Sou muito feliz de trabalhar com tantas pessoas talentosas e criativas na Insomniac Games. Sou pai de quatro crianças – e todas elas jogam. E sou um gamer de longa data, então essa decisão significa muito para mim, por diversas razões.
Obrigado, Suprema Corte, por uma dose de sanidade nesse mundo, muitas vezes, maluco.

Randy Pitchford, presidente da Gearbox Software (Duke Nukem Forever e Borderlands)

A decisão de hoje é, obviamente, um marco histórico para os games. A Corte não se limitou a dar uma resposta à pergunta da vez, mas proclamou, definitivamente, que os games são um discurso protegido.
A Corte também refutou as alegações do estado da Califórnia de que existe uma conexão de causa entre jogos violentos e violência entre crianças. É claro que nós, jogadores, já sabíamos disso porque temos confiança em nossos códigos morais individuais e coletivos independentemente da natureza dos conteúdos a que fomos expostos enquanto crianças ou mesmo enquanto adultos.
Mas a reafirmação disso pela Suprema Corte é importante porque ajuda a evitar que surjam futuras tentativas de traçar essas relações errôneas dizendo que os games afetam o comportamento. Nunca mais alguém usará um argumento assim sem que seja atropelado pelo fato de que a Suprema Corte dos Estados Unidos analisou as evidências e concluiu que as afirmações do estado da Califórnia de que os games representam um problema especial não são convincentes.
Tenho certeza de que existem pessoas (do tipo que tem medo de coisas novas) que vão continuar tentando argumentar contra os games, mas se deixarmos de lado os extremistas, acho razoável pensar que a decisão de hoje é o último prego no caixão da ideia de que games são prejudiciais. Vai demorar um tempo, é claro, para que esse caixão seja enterrado, mas a hora vai chegar.

John Riccitiello, CEO da Electronic Arts (Battlefield, Medal of Honor)

Todos saem ganhando com essa decisão – a Corte reafirmou os direitos constitucionais dos desenvolvedores de jogos; os adultos continuam podendo escolher o que é ou não apropriado em suas casas; os comerciantes podem vender jogos sem medo de serem processados.
Ao longo da história americana, toda nova mídia precisou lutar para estabelecer seus direitos. Assim como livros e filmes, os games tiveram que enfrentar a censura e se levantar pela liberdade de criação.
Foi uma luta longa, difícil e cara, mas juntos nós conseguimos – desenvolvedores, produtores e fãs unidos numa poderosa coalizão política. Vão surgir novos censores e novos desafios. Mas agora nós temos um exército no campo de batalha para lutar pelos direitos dos jogadores e dos criadores de jogos.

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