sexta-feira, 26 de outubro de 2012

REVIEW Resident Evil 6


Jogo evidencia como a série da Capcom está saindo da linha, mas nem tudo está perdido
Quatorze anos se passaram desde a explosão que assolou Raccoon City . Mais de uma década, e os acontecimentos ainda estão frescos na memória de quem quer que tenha sobrevivido. Chris Redfield  já não traz muito do rapaz emocional de antes, visto nos outros episódios da franquia: tomado pela vontade de se vingar dos responsáveis por liquidar seus parceiros anteriores e pela necessidade de descobrir quem está por trás da nova onda de contaminações virais que atinge Lanshiang , uma cidade chinesa, segue, com muito sangue frio junto de seu novo parceiro, o agente Piers Nivans , da BSAA , em busca de respostas.
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Chris Redfield e seu parceiro Piers
Lançado no último dia 4 de outubro, Resident Evil 6 tem seus momentos. Com a possibilidade de optar por três campanhas principais, o jogo traz três protagonistas conhecidos de outras datas, cada qual com sua própria continuidade de história e parceiros. Assumidamente pretensioso, o jogo desvia ainda mais da já quase extinta essência da série, apesar de manter a linearidade, o que pode agradar os fãs mais fervorosos tanto quanto desanimar aqueles que apenas gostavam da franquia. Infelizmente (ou não), me encontro no segundo grupo mencionado.
Não há como negar que a história do jogo seja um prato cheio para os fãs, e que o “elenco” presente no game seja digno de um orgasmo para aqueles que dedicam horas de suas vidas adorando seus pôsteres e distintivos da Umbrella . Os dois heróis mais afamados da série finalmente dividem o mesmo título, personagens antigas voltam tendo maior importância, e as novas e intrigantes participações também prendem a atenção. Entretanto, nem tudo são flores em Resident Evil 6.
Enquanto Chris luta por sua desforra, o protagonista  Leon Kennedy se encontra na cidade de Tall Oaks , junto da também agente Helena Harper , a fim de conter e descobrir de onde vêm os desmortos que infestam o local. Lá, passam por uma situação delicada: Adam Benford , presidente dos Estados Unidos, também foi infectado com a praga que ataca a cidade, e cabe a Leon exterminá-lo - o que seria menos moralmente incômodo se ambos não fossem amigos de longa data.
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Leon Kennedy e seu cabelo espetacular
Apesar dos julgamentos que lhe ocorrem, Leon não hesita tanto até explodir a cabeça de Benford, passando a ser visto como o assassino do presidente. Assume para si todas as consequências do ocorrido, isentando sua parceira Helena de qualquer culpa, o que não impede que os dois sejam caçados pelo governo.

O sangue de Wesker tem poder

Além dos dois personagens, o cast de Resident Evil 6 também conta com Jake Muller , insosso filho de Wesker , que em nada remete ao carisma (ainda que haja controvérsias) do pai. Ao contrário dos expostos ao C-Virus , a nova arma biológica apresentada no jogo, Jake não se tornou um J’avo (que, a princípio, podem ser confundidos com zumbis, quando, na verdade, são apenas humanos infectados que sofreram mutações degenerativas), mas assimilou a substância de uma forma simbiótica, despertando a curiosidade mórbida de muitos, a respeito dos anticorpos presentes em seu sangue. Isto deu a Muller o status de protegido do governo, que enviou a já conhecida Sherry Birkin (de Resident Evil 2 ) para tomar conta do herdeiro.
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Filho de Wesker, Jake Muller é a "surpresa" do jogo
Não é difícil imaginar que, apesar de aparentarem paralelismo, uma hora ou outra, as histórias cruzarão - e aqui está um ponto positivo. Apesar de um pouco confuso e de quase se perder em meio algumas partes de batalha, que poderiam muito bem terem sido deixadas para afins de Call of Duty , o roteiro do jogo envolve o jogador. Cada campanha do título possui 5 capítulos, e cada uma das três anda muito bem em sua própria via. Independentes, demonstram pontos de vista diferentes da história, se fundindo em certo momento com as demais narrativas.
Chris Redfield, por exemplo, passa muito tempo brincando de gato e rato junto da saudosa, memorável, e agora ainda mais encantadora e cínica Ada Wong , que, desta vez, trabalha para a corporação  Neo-Umbrella , e é a responsável pelo background caótico em que se encontra a cidade. Em certo momento, Ada engana a todos e mostra sua verdadeira face, contando que todos os acontecimentos ocorridos em Raccoon City em breve tomarão proporções mundiais, despertando a ira de Chris, que decide matá-la - mas é interrompido por Leon, que salta de sua campanha para a de Redfield e Piers para impedi-los de aniquilarem seu antigo affair.
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Resident Evil 6

Sucessão de erros que desaponta

O enredo ganha pontos pela curiosidade que desperta, mas estende, desnecessariamente, passagens não tão interessantes quanto deveriam. Em grande parcela, Resident Evil 6 se resume a assistir a belíssimas e longas cutscenes (ainda que estas não tenham sido tão bem acabadas quanto deveriam, se medida a quantia gasta no desenvolvimento do jogo), andar até determinado ponto, outra extensa cutscene, matar, em meio a gigantescos quick time events, armas biológicas e outros infectados, mais cutscenes e pronto, próximo capítulo. Esta maneira de apresentar o título quase traz o jogador para o cenário de um mero espectador, ainda que, suponho, em nenhum instante esta tenha sido a ideia da Capcom - uma vez que, para priorizar espectadores, deveria-se no mínimo oferecer bons ângulos de câmera, algo que passa raspando, mas erra o foco do jogo.
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Resident Evil 6
É perceptível que alguns dos erros presentes em Resident Evil 5 tenham sido parcialmente consertados neste. Os cenários definitivamente são mais interativos (ainda que nem tanto), mesmo que permaneçam inexploráveis livremente, e conseguir mirar, atirar e andar, simultaneamente, para muitos pode ser considerado a remissão das falhas do jogo.
A câmera livre, entretanto, decepciona ainda mais. A angulação muito próxima do personagem, limitando a visão panorâmica, e certos eventos em que ela se prende a um determinado ponto da tela, acabam por causar mortes desnecessárias e ataques vindos por lados que não podemos prever, o que torna a experiência um tanto frustrante.
Também existem algumas pequenas falhas de sincronia no áudio do game, nada muito importante, mas que pode irritar os jogadores já um pouco frustrados com a experiência. Um ponto positivo desse quesito é que o jogo vem com legendas também em português brasileiro, ainda que este não se encontre em perfeitas condições - muitas vezes temos a sensação de ler um texto apenas copiado do original e colado no Google Translate, com algumas falhas grotescas de concordância.

Nem tudo está perdido

Nós já sabemos que muita coisa deu errado em Resident Evil 5, entre elas o modo de compras. Felizmente, a Capcom soube reconhecer o erro e desistiu do sistema falho, criando um novo modo, desta vez com pontos de habilidade, ganhos durante as batalhas contra inimigos, que podem ser trocados em compras de skills.
Tais habilidades só podem ser trocadas nos intervalos entre capítulos, começando com três slots vazios, que acabam se transformando em até oito combinações de skills, dependendo da quantia de pontos que o jogador reúne ao decorrer da fase. Estas podem desde aumentar a defesa do personagem, a intensificar o poder de fogo de suas armas. A lista de habilidades e a possibilidade de upgrades das mesmas passam de 50 opções, e algumas delas só podem ser destravadas in-game, por meio de pequenas missões ou itens encontrados pelo cenário.
O modo Mercenaries , em que o jogador pode assumir o papel de qualquer elemento vivo (e morto, também, já que isto inclui os zumbis) é bastante divertido. A qualquer momento pode-se invadir e atrapalhar campanhas alheias, tanto de amigos quanto as abertas na rede online. O modo cooperativo, tanto online quanto offline, me deixaram um tanto reticente. A tela dividida não acrescenta muito dinamismo e, novamente, a angulação das câmeras atrapalha a fluidez do jogo.
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Modo cooperativo de Resident Evil 6 conta com a bastante utilizada Split Screen, mas não funciona muito bem
Os controles e novos menus, porém, são melhor aproveitados, desta vez. Determinados inimigos podem deixar cair pentes de balas ou ervas, que, combinadas, geram poções de cura, procedimento que pode ser feito dentro da própria bag, a partir dos direcionais digitais do joystick. Novas armas são encontradas em certos momentos dos capítulos, e armamentos podem ser obtidos de dentro dos caixotes salpicados pelos cenários - e esta é uma das poucas interações que o jogador poderá ter com ele. Vale ressaltar, as armas vão parar naquele já conhecido vórtex corporal presente em cada personagem. Você pode sacar desde uma simples pistola a um atirador de mísseis do mais absoluto nada, uma vez que estas se tornam invisíveis quando coletadas.
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Menu do jogo foi simplificado (e tem a opção em inglês)
As animações de combate simples, aquele em que o personagem deve se livrar dos inimigos, são bastante dinâmicas e sim, merecem ser tratadas como um ponto positivo. Cada campanha, possui, bem como cada personagem que a protagoniza, estilos diferentes de infectados e de lutas. É possível esmigalhar os J’avos com shotguns, em poder de Chris, e utilizar-se das próprias armas dos zumbis para exterminá-los, no caso de Leon. O embate corpo a corpo também se mostra muito eficiente e divertido, de modo que matar os antagonistas “no braço” deixa o jogo bem mais interessante e intenso (sim, é possível matá-los apenas com chaves de pescoço ou socos na cabeça).
Por falar em animações, a parte gráfica de Resident Evil 6 deixa muito a desejar. De um jogo destas proporções, é de se esperar, no mínimo, menos serrilhados e um visual mais “redondo”, o contrário do que encontramos: problemas de iluminação, foco e mesmo excesso de nitidez, que torna os serrilhados muito aparentes. Entretanto, é importante registrar um fato: os cabelos dos personagens são mesmo sensacionais.

Dicotomias opinativas 
Não é saudável sair caçando culpados por um semi-fracasso, e nem ao menos conseguiria fazer isto. Já fui muito mais fã da série, e formar uma opinião tão dura sobre algo que se gosta, geralmente desperta um misto de sentimento meio paternal, quase xiita, e ao mesmo tempo uma descrença muito grande.
Talvez, Resident Evil 6 tenha pecado pelo excesso de “hype”. Milhões foram gastos em marketing, dezenas de trailers, gameplays e imagens foram liberadas antes de seu lançamento, e a iminência dos marcantes personagens juntos em um mesmo game, deu a ele a intenção do posto de jogo do ano. Algo deu bastante errado nesta intenção. Sabemos que se trata de um título esperado e que a franquia possui uma base consolidada entre os jogadores hardcore e mesmo os mais casuais, mas muitas das decepções que o game causou, poderiam ter sido evitadas com um pouco menos de pretensão.
Num geral, Resident Evil 6 se salva por pequenos acertos no roteiro, inovações e controles. O desfecho da trama, ainda que tenha permanecido absurdamente digno de um filme B de suspense, tem relances emocionais que podem tocar os mais sensíveis, mas a falta de sustos, tensão e de todo aquele sumo do horror de Resident Evil que estávamos acostumados desde cedo, definitivamente estão se perdendo, A realidade é que a CAPCOM sem o criador do RESIDENT EVIL não consegue fazer um jogo a altura, creio que se os novos produtores DEIXASSEM de tentar inovar o jogo e mantivessem seu estilo não teríamos esse desgosto.

Uma pena, Capcom. 

Nota: 1 de 5 

Resident Evil 6 
Produzido e distribuído pela Capcom 
Disponível para Xbox 360, PlayStation 3 e PC.

Fonte: ARENA