
É quase o que os seus pais chamariam de “cópia carbono”, mas com uma estrutura levemente diferente. É um jogo de luta (ou de ação, se você for da escola de pensamento que não junta Smash com Street Fighter) em equipes com mascotes, comandos simples, cenários irregulares e cheios de armadilhas e saídas incomuns para vencer as partidas. Itens, pontos, golpes especiais de encher a tela e aquela coisa toda. Mas falta liga nessa massa.
Quando dizemos que, por exemplo, Mortal Kombat “é um clone” de Street Fighter, ou Saints Row é um clone de GTA, estamos falando de jogos que seguiram gêneros criados (GTA) ou estabelecidos (SF) antes. O problema é que Smash Bros. é peculiar demais para ser considerado um gênero. Para você fazer um bom Smash Bros., precisa, no mínimo, de um universo coeso e de personagens marcantes – quesitos em que a Sony ainda perde para Nintendo.
Como no simulador de troca-de-tapas estrelado por Mario e Link, o modo mais básico de batalha de PS All-Stars é regido por pontos: ao fim da contagem, quem tiver matado mais oponentes vence. A pancadaria acontece com três botões de ataque (um a mais do que os dois de Smash Bros.), agarrões e, principalmente, especiais. Na verdade, as batalhas giram em torno dos especiais, e isso deixa tudo com um ritmo esquisito. Cada personagem tem três “Supers” de intensidades diferentes. O primeiro, normalmente, é mais simples, como o pião de cabeça de Raiden, que mata quem estiver em volta. O segundo costuma pegar uma área maior, e o terceiro é algo que ou mata todo mundo na tela automaticamente ou te deixa invencível e ridiculamente forte por alguns segundos – tempo o suficiente para 3 ou 4 abates.
O problema é que isso faz a luta inteira depender muito dos especiais. O que vem antes – os combos, a estratégia, o uso inteligente dos cenários e dos itens – é só uma brincadeira até que a primeira barra de especial encha e todo mundo saia correndo para não morrer. Essa dinâmica não é necessariamente ruim, só um pouco mal distribuída. Smash Bros., por outro lado, tinha o sistema de porcentagem, que servia como uma barra de vida disfarçada: quanto maior o número, menor a chance de você se safar se você arremessado com força para fora da arena. Mas, mesmo aos 0%, você poderia cair e morrer, se vacilasse.
Apesar desse foco exagerado nos especiais, Battle Royale ainda tem um sistema de golpes e combos interessante. São três botões, com pancadas de intensidades e velocidades diferentes, e só com eles e com direcionais simples (nada de meia-lua ou pentagrama invertido pra soltar aquela magia) você pode mandar aquela sequência com combo aéreo que sempre sonhou em fazer. E os tutoriais, tanto o geral quanto os específicos para cada personagem, ajudam bastante a sentir do que cada um é capaz. E eles são bem diferentes entre si, ainda que um pouco desequilibrados: a proliferação de Raidens no modo online, por exemplo, denuncia que o ninja de Metal Gea está bem acima dos outros.
O modo online funciona bem, com lag em poucas partidas, muita gente jogando, desafios específicos que são trocados constantemente e os bons e velhos rankings – tem muita coisa para se fazer. O problema é que um dos aspectos principais dele não é muito inteligente: você escolhe o personagem antes de procurar pela partida. Normalmente, a escolha do lutador deveria acontecer depois que todo mundo entra na sala, já que essa decisão faz parte da estratégia.
Superadas as questões técnicas, temos o dilema do carisma. Grande parte do que vende Smash Bros. é a fama dos personagens: Mario, Link, Samus, Pìkachu, Fox, Kirby. E não só isso, mas o fato de que, mesmo vindo de jogos com estilos diferentes, todos parecem se encaixar perfeitamente quando reunidos – tudo colorido, exagerado, divertido. No elenco de All-Stars Battle Royale, talvez só Kratos chegue perto do status de ícone que um Mario tem. E mesmo assim é esquisito ver o espartano de God of War contracenando com Parappa ou a Fat Princess, ou Ratchet com Heihachi em um cenário de Killzone 3 que é horrendamente poluído. As coisas não se encaixam, ainda mais com o tom cartunesco do próprio jogo. Talvez se tirassem os “mascotes” e transformassem PS All-Stars em um jogo de luta mais tradicional, as coisas dessem certo.
No fim das contas o Super Smash Bros. da Sony é só um Smash Bros. com poucas variações, nenhuma grande melhoria. E sem todo aquele pedigree que fez o jogo da Nintendo ser referência até hoje